Francisco das Chagas
Souza CARVALHO FILHO
Nos trabalhos de natureza
acadêmica, a citação tem como funções básicas legitimar e ilustrar o que é dito, bem como auxiliar aquele que a usa, mas nem sempre
é assim que se dá. O autor citado goza de certa autoridade, e por isso tem seu
pensamento recortado para ser inserido no texto. Noutros casos, o autor do texto pode argumentar contra uma citação, se for relevante. O que pode ser visto como heresia é não se valer de citação alguma. É de conhecimento geral que tanto
o excesso quanto a escassez de citações podem ser encarados de forma negativa.
Deve-se chegar a um meio-termo. A citação, seja direta ou indireta, deve
encaixar-se perfeitamente no corpus do trabalho. Contudo, há ocasiões em que me
parece que a tradição das citações acaba por apagar a voz e personalidade do
verdadeiro autor de um artigo, dissertação, monografia etc. Se as citações
podem enriquecer um texto, também são capazes de deixá-lo semelhante a uma
colcha de retalhos. Depois de um certo tempo, a escrita corre o risco de
tornar-se automática, mecanizada, como se um ser externo ao texto o tivesse
escrito. Por vezes tenho a impressão de que quem está escrevendo um texto não
sou eu, e sim o próprio Victor Frankenstein. Daí sua aparência estranha, como
se fosse feito de pedaços de outros corpos.
Parnaíba, 12 de março de 2017
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